Todos os dias saímos de casa em direção ao trabalho, ao mercado, a loja, aos parques, lanchonetes, cafeterias, cinemas, praças.Passamos todos os dias pelas mesmas ruas e esquinas.Se vamos a pé, a cabeça baixa olhando a tela do celular.Se vamos de carro, os olhos atentos ao fluxo, o rádio ligado.Mas, o que vemos neste trajeto?Quantas histórias nós deixamos de ver?Estas foram perguntas que me fiz e de onde surgiu a ideia de exercitar meu olhar fotográfico pelas ruas de Concórdia.Ergui minha cabeça e em janeiro de 2020 nasceu dentro do meu perfil no Instagram a hastag #COTIDIANO, retratando as histórias não vistas ou muitas vezes negligenciadas em nossas ruas.
E já na primeira incursão, no primeiro dia, às 18h43m daquele 08 de janeiro de 20, a história que saltou aos olhos.A leitura é sua.O peso e o que ela significa, que cada um calcule.Aos poucos o #COTIDIANO foi alimentando o feed e as pessoas foram se identificando, identificando os outros e muitas vezes, ficando com a curiosidade em saber quem era aquela pessoa que dormia em um dia de chuva, debaixo de uma sombrinha, deitado em um ponto de ônibus.Jamais iremos saber!E eis o barato da fotografia, que é também, alimentar a imaginação, a especulação.
Não sei quanto foi andado para contar as histórias.Quantas horas sentado ou rodando pela nossa praça central.Quantos litros de gasolina foram gastos, indo até uma esquina aleatória e lá estacionado para esperar a imagem surgir.E elas sempre surgem, acredite.A virtude em se contar este tipo de história está na paciência em esperar ela acontecer.E várias histórias surgiram com os mais variados personagens.
Até o dia em que nos trancaram em casa.A cidade parou.Os sorrisos das pessoas que andavam pelas ruas desapareceram.
O #COTIDIANO tornou-se caseiro, sobre livros, faxinas, joguinhos virtuais, um pet que deixou saudades.2020 foi complicado.Eu não queria contar histórias mascaradas.Ver pessoas sem faces.Eu desejava ao menos um pouco daquela (a) normalidade do cotidiano.Respiramos mesmo que por aparelhos quando chegamos em 2021, sempre com a sombra do medo pairando sobre nossos ombros.As ruas voltaram a ter um pouco mais de vida e as histórias foram aparecendo lentamente.Não estamos vivendo o normal da vida, ou talvez, esse seja o novo normal ao qual teremos que nos adaptar.Mas como se adaptar ao peso da descrença, ignorância e estupidez humana?
Os registros fotográficos do meu #COTIDIANO contam histórias do tempo.Cada foto, cada personagem, cada local, carrega um ciclo, carrega um peso, uma alegria, uma dor, uma dúvida, uma esperança, uma amizade, um amor, que é encontrado em todas as ruas que passo.Não é sobre mim.Não é sobre você.É e sempre será sobre nós e sobre tudo aquilo que nos cerca.E que muitas vezes não vemos.
Agora me responda nos comentários:O que você viu hoje ao sair de casa e que merece ser contado?